Apresentado por Hari Govinda Das.

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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

As duas fontes de religião

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O fenômeno religioso, desde o nascimento das civilizações urbanas, manifestou se e concretizou se, entre os povos sedentários, sob dias formas opostas e contraditórias. Uma ligada ao mundo da natureza, e a outra á organização da vida coletiva da cidade.



O corpo é o instrumento de todas as realizações humanas e deve ser tratado como tal, assim ensina a yoga, a criação em sua totalidade, beleza, florescência, crueldade, harmonia é a expressão do pensamento divino, é por assim dizer a materialização, o corpo de Deus. Somente aqueles qie compreendem o mundo natural, que se identificam com ele, que ocupam um lugar entre as arvores, as flores, os animais,podem realmente aproximar se do mundo dos espíritos e dos deuses.



Conformar –se com o que é, é dharma ( swalakshanadharanad dharmah) a palavra dharma significa lei natural, conforma se a ela é a única virtude. Não há melhor caminho que não seja a realização daquilo que somos pelo nosso nascimento, nossa natureza e nossas aptidões.



Cada qual deve representar o melhor possível o papel que lhe cabe no grande teatro da criação, se o homem tentar atribuir a si mesmo um papel que não é o seu na sociedade, torna se um inimigo da humanidade, se ele é um predador, um inimigo de outras espécies, torna se o inimigo dos deuses, o inimigo da criação.



Outra forma de religião é a da cidade, ou da sociedade dos homens,ela pretende impor sanções divinas a convenções sociais,erige leis humanas em atos sagrados, , serve de desculpa ás ambições dos homens, que pretendem dominar o mundo natural, fazer uso dele, atribuir-se uma posição única em detrimento das outras espécies, vegetais, animais ate supranaturais. Foi sob influencia das concepções religiosas dos conquistadores nômades, que as religiões da cidade adquiriram um caráter antropocentrista, que não era aparente na origem. Foi sob influencias das concepções religiosas rudimentares dos conquistadores nômades ,que as religiões da cidade adquiriram um caráter antropocentrista, que não era aparente na origem.



Os povos nômades não tem verdadeiro contato com o mundo da natureza. Não vivem em comunidade com lugares, arvores, animais, a não ser com aqueles que eles dominaram ou domesticaram. Caminha com seus deuses e lendas, e que são mais predispostos que os outros á simplificação monoteísta.



O culto a Shiva é essencialmente uma religião da natureza. Shiva representa aenas um aspecto da hierarquia divina, aquele que concerne ao conjunto da vida terrestre. O shivaismo , ao estabelecer uma coordenação realista entre os seres sutis e os seres vivos, sempre se opôs ao antropocentrismo das sociedades urbanas. O Shivaismo ensina aos homens a não dar importância as leis humanas para reencontrar as leis divinas, seu culto ,que desencadeia as potencias da alma e do corpo, encontrou uma viva resistência por parte das religiões urbanas que o consideravam anti- social. Shiva é representado por elas como o protetor daqueles que se mantém afastados da sociedade convencional.



O perigo do monoteísmo é que ele resulta numa redução do divino a imagem do homem, uma apropriação de Deus a serviço de uma raça eleita. É o oposto da verdadeira religião. Pois serve de escusa á sujeição da obra divina ás ambições do homem.



Qualquer religião que considera seus fieis como eleitos que pretendem ter recebido de um deus o direito e o dever de propagar suas crenças, seus costumes e destruir ou sujeitar os incrédulos, não passa de um impostura. As cruzadas, as missões, as guerras santas são as mascaras da homogenia e do colonialismo.



No Rig veda (II-21-5) o livro sagrado dos invasores arianos, pedia ao deus Indra que não permitisse que os adeptos do culto de Shiva, que eles chamam de Shishna-devas, adoradores do Linga, pudessem aproximar se de seus sacrifícios e rituais.Todavia o poder da magia misteriosa de Shiva nunca pode ser ignorada impunemente e teve de ser reservado um lugar para o culto de Shiva , apesar da hostilidade que sempre lhe demonstram os senhores da cidade.



Só com o desenvolvimento do novo bramanismo é que os ritos ao linga não arianos foram incorporados as crenças arianas, formando um elemento essencial do Shivaismo histórico.Os maiores santuários tiveram que lhe reservar um grande espaço, sem duvida a contragosto. Um deva da juventude, dos humildes e da ecologia, protetor dos animais e das arvores, Shiva ´e acusado de ensinar os segredos do saber aos sudras, aos humildes, de estar cercado de bandos de jovens delinqüentes que zombam das instituições da sociedade e dos governos de velhos. No Shivaismo, a transcendência em relação ás normas da vida ordinária é traduzida no plano popular pelo fato de Shiva, entre todas as coisas, é representado como o deus patrono daqueles que não levam uma vida normal e até mesmo fora da lei. ( yoga trantrika-pg 432)



O contato co as forcas que animam o infra- humano e o supra-humano, que os fieis de Shiva buscam, levao-os a uma recusa do político, das ambições e dos limites da vida socializada, não se trata de um reconhecimento da harmonia do mundo, mas de uma participação ativa numa experiência que ultrapassa e perturba a ordenação da vida material.



Ao longo da historia , as sociedades urbanas e industriais, exploradoras e destruidoras do mundo natural, opuseram-se a qualquer aproximação ecológica ou mística, a libertação do homem, á sua felicidade.



As guerras, os genocídios, as destruições de civilizações inteiras sempre tiveram por base as religiões da cidade. Todas as vezes que o culto a Shiva reapareceu ele foi banido da cidade que só admite os cultos que dão importância desmedida ao homem, que permite e escusam suas depredações e condenam as formas de êxtase que possibilitam um contato direto com o mundo mistérios dos espíritos.



Durante toda a historia da Índia, encontramos diatribes contra as diversas seitas shivaistas, suas praticas, seus sacrifícios sangrentos, seus ritos. Quer se trate do bramanismo ou do vedismo, sempre encontramos a mesma oposição aos remanescentes da antiga religião fundada no amor á natureza, na busca extática, as mesmas perseguições aos shivaismo ou as outras seitas místicas.



Umas das armas das religiões urbanas é a tirania moral, baseada em dogmas que lhes permitem disciplinar o homem, opor-se á sua realização.O puritanismo é totalmente desconhecido no mundo natural, na religião natural apresentada pelo Linga Purana. A religião em sua forma atual – que é preciso distinguir dos ensinamentos originais, representa um desvio característico do conceito religioso que já não considera o conjunto de obras do Criador, mas apenas a doutrinação do homem com objetivos de poder.A expansão colonial do mundo cristão é um exemplo evidente disso. A religião crista impõe , especialmente ás coisas da carne, um código moral de extremo rigor. Condena o amor em si, o orgulho da vida. Vai portanto de encontro aos instintos mais poderosos do animal humano. Essa religião , ao introduzir para as faltas morais a noção teológica de pecado, isto é , de ofensa direta a Deus, faz pesar sobre a existência a carga insuportável de uma culpabilidade , a espera de um julgamento e de um castigo eternos, que correm o risco de entravar toda ação e extinguir toda alegria. Não há nada semelhante no culto antigo do Shivaismo.



A perseguição a sexualidade, elemento essencial da felicidade , é uma técnica característica de todas as tiranias patriarcal, política ou religiosa. A Índia onde o Shivaismo permaneceu como um componente essencial da vida religiosa, foi parcialmente preservada do fetichismo moral que prevaleceu no Ocidente. Não atribui nenhum valor absoluto, nenhum caráter categórico a normas de comportamento.na pratica atual do shivaismo indiano , encontramos um numero muito grande de elementos que permaneceram idênticos áqueles que os textos mais antigos mencionam. O Shivaismo e seus métodos de yoga e o trantrismo constituem uma aproximação do mundo natural e sobrenatural profundamente realista que tende, de maneira periódica a restabelecer sua influencia quando os homens começam a compreender que foram desviados do respeito ás leis naturais elas religiões urbanas e buscam retornar as praticas e ritos mais conformes á razão de ser da criação.



A profunda influencia do Shivaismo sobre o conjunto do pensamento indiano, na atitude dos hindus em relação aos animais, aos homens e aos deuses , salvaguardou em grande parte, na Índia , o respeito pela obra do Criador e um espírito de tolerância fundamental que só muito raramente subsistiu em outros lugares.



Após os ataques que lhes foram dirigidos pelo vedismo e pelo budismo, e depois pelo puritanismo islâmico e cristão, o shivaismo tende a encerrar-se num certo esoterismo, e assim não é fácil abordá-lo. As classes modernizadas da Índia fingem ignorá-lo, mas isso não afeta a sua vitalidade profunda. O Shivaismo continua sendo essencialmente a religião do povo, mas também a dos maiores graus da iniciação no mundo Hindu. Não há de fato outra verdadeira iniciação senão a shivaista, todos os cultos de mistérios são de caráter shivaista.



A herança do Shivaismo é a base da experiência dos hindus, se bem que com freqüência sob uma forma desnaturada e tornada insípida pelo puritanismo e avareza sexual, que são enfermidades endêmicas do bramanismo védico, assim como de todas as religiões que se tornaram religiões de estado. O poder temporal , a riqueza, a hierarquia autoritária das instituições religiosas são incompatíveis com a liberdade necessaria a toda pesquisa que se trate da experiência mística ou descoberta cientifica. A igreja tentou e ainda tenta eliminar tanto os místicos quanto os cientistas, seus sacramentos são apenas ritos sociais, e não mais a transmissão de poderes sagrados.Sua moral reduz a uma perseguição do sexual que faz daqueles que suportam sua tirania seres frustrados, agressivos e perigosos.

2 comentários:

  1. Seu discurso shivaísta é o mais puro com o qual já entrei em contato. Meu respeito e meu pujá ao seu pensar !

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  2. Eu já a muitos anos, aprendi a fazer pujá para Ganesha, empiricamente fui acertando e até já sei interpretar o pujá e perceber se foi bem aceito.Já para Shiva não deve ser a mesmo procedimento, são frequencias muito diferentes. Tenho medo de não acertar e fazer errado, será poderia me indicar um bom procedimento para um Shivaratri. Agradeço a atenção!

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